Wednesday, November 16, 2016

Crítica sobre o Filme Animais Fantásticos e Onde Habitam

Peter Debruge, crítico-chefe da revista Variety faz a sua crítica sobre o filme Animais Fantásticos e Onde Habitam, nova série de filmes derivada da série Harry Potter.
Emprestando o título de um texto estudado por Harry Potter na Escola de Magia e Feitiçaria de Hogwarts, marca o primeiro roteiro escrito pela própria J.K. Rowling.

Embora ela tenha mantido em rédeas curtas as pessoas que adaptaram seus livros para o cinema, desta vez, fazendo ela própria o roteiro, proporciona a ela uma chance pela primeira vez de abordar mais diretamente as centenas de fãs no mundo.

O primeiro filme de uma série de 5, cujos dois primeiros vão ser dirigidos por David Yates (responsável pelos quatro últimos filmes de HP), Animais Fantásticos foca na fantasia e na imaginação, como também na tolerância, no medo e no fanatismo do mundo de hoje. O protagonista é um mágico-zoologista avoado, chamado Newt Scamander (Eddie Redmayne), cuja missão pessoal de proteger criaturas mágicas vai acabar levando ele a publicar o referido guia (título do filme).

Essa alegoria política troca os dias de hoje na Inglaterra pelos tempos da Era da Proibição em Nova York, em uma época onde os conflitos entre os bruxos/mágicos e os trouxas (Muggles, ou no-majs na expressão americana) estão efervescendo. Uma época em que os humanos não guerreavam entre si.

É 1926 e Scamander chega a Ilha de Ellis nos Estados Unidos com uma maleta sem fundo de “animais” ilegais, dentre eles um Pelúcio (Niffler) um travesso marsupial de bico de pato com um grande olfato para tesouros a um gigante Pássaro Trovão (Thunderbird), que Newt planeja soltá-los em algum lugar longe das pessoas, no Arizona. Mas os EUA são particularmente intolerantes quando algo se refere à mágica. Lembram-se dos julgamentos das bruxas em Salém?. Como precaução, todos os animais estão contra a lei de acordo com o MACUSA, o equivalente ao Ministério da Magia na Inglaterra, com pesadas multas se houver desobediência.
Como Scamander é avoado, ele acaba trocando maletas com Jacob Kowalski (Dan Fogler), um trouxa trabalhador de uma fábrica, que rapidamente solta meia dúzia dos animais nas ruas – animais esses que tem o mau hábito de pular diretamente nas lentes 3D das câmeras de filmagem.
O que se segue pode ser uma típica e sofisticada busca ao Pokemon Go, com Scamander fazendo uma versão de casaco de tweed e sardas de Ash Ketchum e lutando para localizar e recapturar as criaturas que escaparam, antes que as coisas saiam de controle.
As coisas ficam fora de controle na cena no banco, onde Rowling e Yates colocam vários níveis de vigilância – a ex-auror, que pertencia ao Ministério da Magia, Tina Goldstein (Katherine Waterston) espiona Scamander, que está seguindo Kowalski, que por sua vez está sendo vigiado por um gerente de banco suspeito – que fazem parecer uma fruta que está sendo passada em um liquidificador.


Manter Yates como diretor dá uma consistência ao projeto, mas teria sido mais renovador fazer uma nova abordagem do mundo de Rowling com essa série, especialmente considerando que os últimos filmes de Potter terem sido obscuros e sérios. Contudo, Yates conhece esse mundo como nenhum outro e ele se supera ao encontrar as soluções visuais para ideias desafiadoras do livro.

Com todas as ligações com a série Harry Potter, Animais Fantásticos foi claramente preparado para os mais devotos fãs de Rowling e embora possa parecer confuso para os novatos, os fiéis vão apreciar o fato de que  o filme não fala mal com o seu público.

Estranhamente, o roteiro de Rowling não dá informações sobre a origem de Newt nesse ponto, enquanto que para Tina, há vários flashbacks no decorrer do filme. Talvez seja porque Rowling esteja preocupada agora apenas com o enredo nesse ponto. As recordações de Tina ajudam o filme, mesmo que as duas horas de filme não deixem muito espaço para mais detalhes sobre o personagem de Newt.

Há momentos de intensa superstição para os trouxas e bruxos e embora os últimos cada vez mais busquem a escolha de um líder, elegendo como presidente uma mulher mestiça, chamada Seraphina Picquery (Carmen Ejogo), eles são muito intolerantes em relação aos trouxas americanos – com uma boa razão: Está crescendo uma nova seita de manifestantes contra a magia, liderados por Mary Lou Barebone (interpretada com puritanismo por Samantha Morton). Vestida como uma personagem tirada do filme “As Bruxas de Salém”, Barebone rouba/adota crianças de famílias de bruxos , mas não presta atenção nos próprios filhos, dando espaço para que seu “filho” Credence (Ezra Miller) tenha encontros particulares com um poderoso auror, Percival Graves (Colin Farrell).

Naturalmente, Percival está ocultando uma daquelas elaboradas personagens duplas, que Rowling gosta de inventar, levantando as expectativas do público pelos protagonistas: Newt, Jacob, Tina, a irmã de Tina, Queenie (Alison Sudol). Não será apenas recapturar os animais, mas também nossos heróis devem evitar que Mary Lou e Percival exponham o mundo da bruxaria para toda a população americana.

Animais Fantásticos amplifica os pontos fortes e fracos da abordagem de Rowling em seu roteiro, onde suspenses funcionam bem nos livros, levando de capítulo em capítulo. Mas nas telas, o público tem que tomar a estória de uma vez só. Por outro lado, a escritora aprendeu algo sobre a franquia Harry Potter, tentando estabelecer uma base que possa ser enriquecida e expandida em filmes futuros.

Além disso, o filme Animais Fantásticos acontece em um mundo muito maior do que qualquer filme de Potter, tanto pelo  orçamento bem ampliado como no local onde acontecem as coisas: Nova York, bem debaixo dos trouxas.


Embora Rowling tome a oportunidade de introduzir algumas mensagens relativas à intolerância dentro do filme, não se pode deixar de questionar os limites da alegoria:  no mundo real, os intolerantes não tem uma razão real para odiar membros de outras raças e religiões, enquanto que bruxos criam uma ameaça muito real para as pessoas normais. É a mesma falha que acontece nos filmes-franquia Os Vingadores e X-Men. Mas considerando que o enredo romântico adicional de Queenie e Jacob é o detalhe mais charmoso do filme, há pistas que Rowling terá que contar mais sobre o assunto dos mestiços, tal como no caso de Harry Potter, num futuro próximo.

K. Waterston, Ezra Miller, Redmayne, JKR, Carmen Ejogo e Alison Sudol

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