Josh Singer |
O diretor Damien Chazelle, de filmes como “Whiplash: Em
Busca da Perfeição” e “La La Land: Cantando Estações”, e Ryan Gosling, de
“Blade Runner 2049” entre outros filmes, estão juntos de volta depois do
estrondoso e premiado sucesso do musical “La La Land” para fazer agora um filme
biográfico baseado no livro de James Hansen, “First Man: A Life of Neil A.
Armstrong”. O livro foi adaptado pelo vencedor do Oscar por “Spotlight –
Segredos Revelados”, o roteirista Josh Singer, que apesar do nome é escritor.
O filme tem ainda um grande elenco, que inclui Claire Foy
como Janet Shearon, a primeira esposa de Neil, Jason Clarke (“Planeta dos
Macacos: O Confronto”) como eEd White , Shea Wigham (“Kong: a Ilha da Caveira”)
como Gus Grisson, Brian d’Arcy James (“13 Reasons Why”) como Joseph A. Walker,
e Pablo Schreiber (“American Gods”) como Jim Lovell.
O filme vai estrear dia 18 de outubro no Brasil.
Abaixo a entrevista com Josh Singer, que ele fez para o site
ComingSoon.net (CS):
CS: O que está achando da recepção do filme, até agora?
Josh Singer: Estou muito orgulhoso do trabalho e do trabalho feito por Damien Chazelle,
assim como o desempenho dos atores principais, Ryan Gosling e Claire Foy. Acho
que o filme não é apenas fantástico, mas é um daqueles que em uma segunda,
terceira e quarta vez assistindo, vocês verão muitas facetas e detalhes, que é
algo que me fez ficar muito orgulhoso de ter participado.
Gosling e Claire Foy |
CS: A Claire, como a esposa de Neil, tem um papel crucial no
filme, porque o próprio Neil é tão reservado que, muitas vezes, você acha que
ela está refletindo e sendo a porta voz de tudo que ele vai sofrer
emocionalmente. Poderia falar um pouco
sobre ela ser um condutor emocional para ele, assim como pela própria
experiência dela?
Singer: Sim, não, foi um grande desafio para nós. O Neil tem
uma personalidade emocionalmente fechada, assim tivemos que manter isso para ser verdadeiro com a realidade. Você está
trabalhando com um escopo muito limitado em termos de alcance emocional e,
enquanto Ryan fez tanto com tão pouco, há ainda o desafio de que você não verá
explosões emocionais nesse indivíduo. Não era o tipo dele. Eu sabia que
teríamos que ser limitados, certo? Eu também sabia que Ryan iria demonstrar isso como ator, mas eu sabia que seria algo limitado, contido em termos desse
alcance emocional que poderíamos dar a Neil. E a resposta para esse desafio
era justamente a Janet. Ela está um pouco contida também em termos do papel
dela, mas não precisávamos ser tão contidos, porque Janet tinha personalidade
forte e porque eu acredito que o papel da esposa de um astronauta era estar com
ele 100%, segurando as pontas e estar sob o olhar do público. Eu acho que
Janet manejou tudo isso com maestria e realmente poderia ser um amparo
emocional para nós. Ficamos emocionados de poder ter Claire Foy para fazer o
papel, porque ela é alguém que, como Ryan, pode fazer muito com tão pouco,
não é? Os olhos dela são expressivos. Um dos meus momentos favoritos é quando
Neil bate a porta com força, quando ele está conversando depois da Gemini 8 e
isto é uma história real. Ele estava muito chateado com a Gemini 8. É quando
ele bate a porta e há uma ação onde Claire reage à porta sendo batida e depois
de um segundo, ela diz, “Sim, está tudo bem.” Para mim e de alguma forma nesse
momento, ela resume muito sobre o que era o papel da esposa de um astronauta. E
assim, ele faz uma daquelas coisas que você escreve e espera que os atores
possam transmitir muito sem diálogo, com ações, com olhares. Eu acho que os
dois fizeram um grande trabalho, mas não há dúvida que reconhecemos a ideia de
que Janet seria o amparo, a âncora de apoio para o filme, por causa de todas
as limitações com o personagem de Neil.
CS: Um pequeno e importante detalhe emocional para Neil é
através do bracelete de Karen. Isso foi uma invenção ou algo que acharam nas
pesquisas?
Chazelle, Gosling, Corey Stoll e Luke Haas |
Singer: É uma conjectura, mas não é minha. Jim Hansen,
escritor do livro, que passou 50 horas entrevistando Neil e vários anos
trabalhando com ele, ele chegou ao final da sua pesquisa e essencialmente
chegou à conclusão de que ele pensou que Neil pudesse ter deixado algo na
superfície da Lua. E olha, isso não é incomum. Charlie Duke (astronauta da Apollo 16, que também pisou na Lua) deixou uma foto da
sua família na Lua. Assim, a ideia de deixar uma lembrança na Lua era comum.
Jim achou que talvez Neil tenha feito isso. Ele perguntou a Neil sobre a lista
de objetos de seu kit pessoal, onde ele poderia ter colocado algo lá dentro e
Neil disse que havia perdido ele, algo que seria muito atípico de Neil. Então, Jim
foi até a irmã de Neil, June Hoffman, que conhecia Neil tão bem quanto quase
qualquer pessoa no mundo e perguntou, “Você acha que Neil possa ter deixado
algo de Janet na superfície da Lua?”. E June respondeu: “Oh, eu espero muito
que sim.” Assim, nós escolhemos focar nesse momento. E a propósito, no momento
em que Neil passeia na superfície lunar, há uma passagem em que ele não é filmado propositadamente para evidenciar esse caso. Não era algo que
constava da lista de coisas a fazer na missão. Ele tinha uma tonelada de coisas
a fazer durante o tempo na Lua, pegar amostras de rochas, fazer experiências e
o contato com o presidente Nixon. Havia muita coisa que estava planejada.
Aquilo não era planejado, o momento em que ele vagueia por uma cratera a oeste.
Ninguém realmente fez ideia o que ele estava pensando fazer ou o que ele fez. A conjectura de Jim era que
talvez ele tenha deixado algo lá. Eu pensei, bem, se é bastante bom para o Jim
e é bom para a June, então seria também bom para mim.
CS: Talvez oito ou nove anos atrás, eu tive a chance de entrevistar
vários astronautas da Apollo para um documentário. Tinha o Buzz, o Michael Collins,
todos eles estavam lá. Em certo ponto, Buzz indicou o dedo para meu aparelho
celular, que eu tinha na época e ele disse, “Há mais tecnologia nesse telefone
do que havia no módulo lunar.” Poderia
falar um pouco sobre isso, porque o filme retrata com fidelidade como os
equipamentos eram tão simples e não super sofisticados como todo mundo pensava?
Singer: Sim, claro. Nós estávamos muito conscientes disso
desde o começo. Era uma das coisas que ele tinha dito, que era dar um senso de
como eram desafiadores e assustadores aqueles voos, como eram claustrofóbicos.
Eu acho que uma das coisas que as pessoas observarão é como quase todo o filme
é filmado com muitos close-ups. É muito claustrofóbico de propósito, até que
você chegue à Lua. Nós tentamos passar essa ideia de claustrofobia, tanto na
cabine, como o sentimento da morte onipresente em cada
etapa. Eu acho que a claustrofobia é crítica, mas também há tão pouco espaço
que te separa dos elementos da estrutura. Ela não era feita do material mais forte
que existia. E é com baixa tecnologia, ou melhor, com a tecnologia que havia na época.
Com isso dito, eles realmente tinham computadores. Esses computadores apenas
estavam no chão em vez de estarem também no módulo, certo? Eu acho que tem sido
um pouco de mito de como as coisas eram fáceis. Nós realmente queríamos quebrar
esse mito e mostrar o desafio, porque eu acho que, em algumas maneiras, isso é
muito mais inspirador do que você percebe, “Ah, sim, essas coisas estavam
dentro do nosso alcance. Só tivemos que
nos sacrificar bastante.” Com o oposto a, “Não, não, eles foram super heróis
e tiveram aquela coragem especial que os capacitaram para ir até lá.”
CS: No filme “Trovão Tropical”, uma das piadas era aquela em
que o personagem de Robert Downey Jr. tinha interpretado Neil Armstrong. Esse
personagem era um ator que queria ganhar o Oscar e ele havia ganhado todas as
premiações. Como uma pessoa, que não roteirizou apenas este filme, mas vários
filmes biográficos – alguns deles que ganharam o Oscar – como você foca em
contar a história da maneira que precisa ser contado, oposto a contar um
história que é mais atraente para a temporada de premiações?
Singer: Isso é engraçado. Eu não sei o que é ser atraente
para a temporada de premiações. Pode se argumentar que fazer a história de um
grande homem nos dias de hoje não seja tão atraente para a temporada de
prêmios. Mas eu me sinto atraído pela história de Neil Armstrong, porque ele
não é necessariamente um grande personagem da história, ele é mais um homem que
se sacrifica enormemente a fim de conseguir um objetivo. Me sinto atraído por
histórias que nos dizem coisas que ainda não sabemos. Como, é claro, nós
sabemos que ele foi até a Lua, mas eu não creio realmente que sabemos como ele
chegou à Lua. Eu acho que é uma história realmente interessante da mesma
maneira como sabemos que o escândalo da Igreja Católica foi exposto pelo jornal
“The Boston Globe” em 2002 (fato relatado no filme “Spotlight: Segredos
Revelados”. Como eles chegaram a essa história, o fato de que eram quatro
jornalistas católicos, que realmente fizeram a reportagem, baseada na sugestão
de um editor-chefe judeu, isso para mim é fascinante. Eu acredito que sou
profundamente um historiador amador na verdade. Eu estou menos interessado em
prêmios e mais interessado em ideias provocadoras sobre onde nós estamos. Assim, por que essa
história é relevante ainda hoje? De novo, como eu disse, eu acho que pelo fato
que você precisa se sacrificar para conseguir algo, isso é ser o que você vai
fazer pelo seu país, não o que o país vai fazer por você. Para mim, são aprendizados
que ressoam dentro de mim. O fato que ele é um líder que não estava
tagarelando seu feito, não era sobre palavras e sim por ações, isso é algo que
está em falta ultimamente. Se é para ser um filme de ganhar prêmios, que seja.
Fonte: ComingSoon.net
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